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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Astro do Rock

Atenção: Esta é uma historia de ficção criada por mim e não tem relação nenhuma com os nomes que aparecem no texto. Escrita originalmente em 12/11/1990.


Ainda nos meus documentos antigos, encontrei uma redação que fiz para meu amigo, que na época trabalhávamos juntos.
Ele era uma figura. Magrão, olhos esbugalhados, gel nos cabelos penteados para traz.
Fã incondicional de Pink Floyd, The Who, Genesis, Guns and Roses, Barão Vermelho e outras bandas de rock. O gerente do departamento vivia chamando a atenção dele, pois a cada 5 minutos, ele parava o trabalho dele e ficava “viajando”, com os olhos parados em algum lugar fixo.
Eu perguntava á ele: Meu, porque você viaja tanto?
Ele sempre respondia que estava imaginando tocando guitarra num palco para dois milhões de pessoas, junto com o Pink Floyd, Genesis, The Who e o Cazuza cantando com ele.
Numa noite em casa, resolvi tirar um sarro dele. Escrevi a historia abaixo, como se ele fosse uma grande astro de rock. Imprimi e entreguei uma copia é ele para ver o que achava.
Lembro que estávamos num bar tomando cerveja e ele começou a ler... depois que terminou disse que aquilo era todo o sonho dele e que eu consegui passar para o papel da forma mais incrível. Ficamos até tarde naquele bar rindo da situação. E ainda ele me disse que eu seria a testemunha de dois grandes sonhos dele: ser um astro de rock e casar-se com a garota que ele estava namorando, a qual tanto amava. Um ano depois, tive o prazer de ser seu padrinho de casamento. Eu e minha noiva na época até viajamos juntos para a cidade onde eles passaram a lua de mel. Pelo menos um dos seus sonhos eu participei, de se casar com a mulher amada.
O segundo sonho dele, de ser um astro de rock, infelizmente não pude presenciar, pois 01 ano depois do casamento, ele virou dependente de drogas injetáveis e alguns meses depois veio a falecer por AIDS.
Onde você estiver... essa é pra você Marcão!!!









...quando de repente, o interfone tocou...
Coloquei meu violão sobre a mesa de centro e ainda com o copo de uísque “on the rocks” na Mao, atendi. Era o segurança do prédio, informando que havia uma pessoa na portaria me procurando.
Quem poderia ser a esta hora da noite numa sexta-feira? – pensei.
- Pergunta quem é e o que quer. – instrui ao segurança.
- Disse que é tal de Roger Waters e precisa falar urgente com o senhor – respondeu o segurança com uma voz grave.
Roger Waters aqui? Puxa vida, quanto tempo que não o vejo. Um, dois anos talvez.
- Peça para subir. – e recoloquei o interfone no suporte da parede.
O que será que Roger Waters quer comigo? Pelo que sei, sua banda de rock estava no auge, ainda mais que fizeram um show em Berlim. Lembro-me muito bem, foi um show em homenagem á queda do muro de Berlim em 1989, com cenas do filme “The Wall”.
Desde que Pink Floyd realizou uma turnê pela Europa, nunca mais tive contato com Roger. Nem telefonemas, nem postal, nada...
Fui até a porta do elevador social para recepcioná-lo. Quando a porta abriu, tive uma surpresa: não estava ali somente Roger, mas também Mark Knopfler e Peter Gabriel.
Ainda havia uma garota, que Roger a apresentou como uma namorada, um caso, sei lá...
Pedi que entrassem a ficassem á vontade. Elogiaram muito a decoração de meu apartamento, que modéstia á parte, tudo decorado por mim.
- Mas o que o traz aqui, Roger? – perguntei.
- Nada em especial. Estou preparando o próximo LP da banda e preciso que você faça uns trabalhos nele. Tenho varias letras de musicas na cabeça, mas não tenho idéia de como fazer os arranjos. Você as prepara e eu cuido do final. Bom negócio, não acha?

Fiquei por um momento pensando na idéia, enquanto preparava outro copo de uísque. Achei Mark meio acanhado, enquanto Peter, ou Pet, vasculhava minha discoteca á procura de Beethoven.
Mark pegou meu violão e sentou num canto da sala e começou a dedilhar “Sultan of Swings”, mas assim que começava a cantar, parava de repente e começava a cantar e tocar “Brothers in Arms”. Depois ficava um longo tempo a meditar.
- O que se passa com ele? – perguntei ao Roger.
- Não se preocupe, quando ele fica careta, só toca essa musica. Ninguém sabe o porquê.
A tal garota, Mary, que eu julgava ser a namorada de Mark, perguntou-me se havia algo para comer. Respondi que sim, bastasse que ela fosse á cozinha e preparasse alguma coisa. Se preferisse, eu poderia ligar para o serviço de restaurante e solicitaria um jantar. Ela preferiu um lanche de queijo e bebeu alguma coisa diet.
Enquanto isso, nós conversávamos sobre a produção do LP da banda, quando de repente, o interfone toca novamente.
- Deixa que eu atendo – falou Peter.
- Acho que o segurança não entende nada em inglês – retruquei.
- Tudo bem. Converso com ele em Russo mesmo.
- Ok. respondi.
Havia uma pessoa na portaria com o nome de Agenor, e, sem a minha autorização já estava a caminho de meu apartamento.
A porta da sala se abriu e Agenor entra muito puto da vida:
- Pô cara... qual é? To te esperando faz 2 horas e você nada...
Pois... havia me esquecido totalmente que Cazuza e Barão estariam no rock in Rio e eu deveria estar lá também. Afinal de contas, três das musicas do novo LP eram de minha autoria e do Cazuza.
- Que horas começa o show? – perguntei.
- Daqui a meia hora – respondeu Cazuza.
- Tudo bem, sairemos agora e chegaremos a tempo para show. – respondi.
- Ok, mas antes deixe-me pegar meu violão porque sem ele não haverá show nenhum...
Neste momento, a porta do meu quarto se abre e minha mãe entra aos berros:
- Marcos, abaixe esse som pelo amor de Deus. Para de encher a cara de cerveja e venha jantar, senão a comida esfria...
- Pô mãe... nem posso “viajar” no meu quarto que você vem torrar meu saco....Dá um tempo...

O papagaio depressivo - Luis Fernando Veríssimo

Compraram o papagaio com a garantia que era um papagaio falador. Não calava a boca. Ia ser divertido. Não há nada mais engraçado do que um papagaio, certo? Aquela voz safada, aquele ar gozador. Mas este papagaio era diferente.
No momento em que chegou em casa, o papagaio rodeado pelas crianças. Dali a pouco um dos garotos foi perguntar ao pai:
-Pai, quem é Kierkegaard?
-O quê?
O Papagaio estava citando Kierkegaard para as crianças. Algo sobre a insignificância do Ser diante do Nada. E fazendo a ressalva que , ao contrário de kierkegaard, ele não encontrava a resposta numa racionalização da cosmogonia cristã. O pai mandou as crianças se afastassem e encarou o papagaio.
-Dá a patinha, Louro.
-Por quê? – disse o papagaio.
-Como, por quê? Porque sim.
-Essa resposta não é aceitável. A não ser como corolário de um posicionamento mais amplo sobre a gratuidade do gesto enquanto...
-Chega!
-Certo. Chega. Eu também sinto um certo enfaro com a minha própria compulsão analítica. O que foi que disse o bardo? “O mundo está demais conosco.” Mas o que fazer? Estamos condenados à autoconsciência. Existir é questionar, como disse...
O pai tentou devolver o papagaio, mas não o aceitaram de volta. A garantia era de que o papagaio falava. Não garantiram que seria engraçado. E o papagaio, realmente, não para de falar. Um dia o pai chegou em casa e foi recebido com a notícia que a cozinheira tentara se suicidar. Mas como? A Rosaura, sempre tão bem disposta?
-Foi o papagaio.
-O papagaio?
-Ele encheu a cabeça dela. A futilidade da existência, a indiferença do Universo, sei lá.
Aquilo não podia continuar assim. Os amigos iam visitar, esperando se divertir com a conversa do papagaio depressivo. No princípio riam muito, sacudiam a cabeça e comentavam: “Veja só, um papagaio filósofo...” Mas em pouco tempo ficavam sérios. Saíam contemplativos. E deprimidos.
-Sabe que algumas coisas que ele diz...
-Eu nunca tinha pensado naquela questão que ele colocou, da transitoriedade da matéria...
Os vizinhos reclamavam. O negativismo do papagaio enchia o poço do edifício e entrava pelas cozinhas. Como se não tivessem bastante preocupações com o preço do feijão, ainda tinham que pensar na finitude humana? O papagaio precisava ser silenciado.
Foi numa madrugada. O pai entrou na cozinha. Acendeu a luz, interrompendo uma dissertação crítica sobre Camus que o papagaio – que era sartreano – fazia no escuro. Pegou um facão.
-Hmmm. – disse o papagaio. – Então vai ser assim.
-Vai.
-Está certo. Você tem o poder. E o facão. Eu sou apenas um papagaio, estou preso neste poleiro. Mas você já pensou bem no que vai fazer?
-É a única solução. A não ser que você prometa nunca mais abrir a boca.
-Isso eu não posso fazer. Sou um papagaio falador. Biologia é destino.
-Então...
-Espere. Pense na imortalidade do seu gesto.
-Mas você mesmo diz que a moral é relativa. Em termos absolutos, num mundo absurdo nenhum gesto é mais ou menos moral do que outro.
-Sim, mas estamos falando de sua moral burguesa. Mesmo ilusória, ela existe enquanto determina o seu sistema de valores.
-Sim, mas...
-Espere. Deixe eu terminar. Sente aí e vamos discutir esta questão. Wittgenstein dizia que...

Desabafo de 25 anos atrás.

Estava eu revirando meus documentos antigos ontem á noite e por grande surpresa encontrei uma texto onde eu transcrevia toda a minha frustração em relação á informática, que na época ainda mal havia chegado ao Brasil. Não tinha condições de me formar como profissional, nem tão pouco ter um computador pessoal. O texto abaixo está na integra de como foi digitado na época. Foram adicionadas algumas notas, para efeito de mera curiosidade no momento da edição deste blog.
Este “desabafo” foi em 03/08/1985 quando eu estava completando 24 anos.
Resolvi deixar postado neste blog, pois quem sabe daqui a 25 anos, se o site ainda existir e eu estiver vivo, possa matar as saudades.

“...na verdade, eu nuca havia me interessado por isso antes, nem tão pouco tomava conhecimento do que se tratava. Apenas sabia, que tudo o que acontece no mundo de hoje, depende dos pequenos circuitos eletrônicos, de informações e programas, para que, um monte de chips, organize e arrume a vida de todo mundo. Ou desorganize...
Na minha concepção, a pessoa que trabalhava nesta área, necessitaria de altos conhecimentos em engenharia eletrônica, mestre em matemática, física, química ou qualquer matéria que exige de cálculos astronômicos, fosse a pessoa com um Q.I invejável. Ou apenas nascesse no Japão...
Comecei a ler artigos e revistas especializadas, jornais, consultei bibliotecas, enfim, comecei a entrar naquele mundo fascinante. Nada que lia e aprendia me espantava, pelo contrario, sabia que tudo aquilo estava aqui e agora, não era ficção cientifica. Era o próprio homem desenvolvendo algo que ele mesmo descobrira, que a união da mente humana com a perfeição das maquinas resultava numa explosão revolucionária. Fiquei pasmo em saber que em meados de 1822 um professor de matemática, Senhor Babagge, planejou a máquina analítica, onde seu principio era constituído em cálculos aritméticos, com memória para mil números de cinqüenta dígitos cada. Uma coisa totalmente impossível naquela época, onde tal projeto não pode ser concluído por falta de peças.
Tal projeto fora largado no passado, quando depois de 100 anos, outro professor de matemática com a ajuda dos projetos de Babagee, construiu a primeira maquina capaz de processar milhões de informações por segundo, fornecendo seus respectivos resultados, em poucos segundos. Esta maquina possuía nada mais que 18 mil válvulas e ocupava uma área de 80 metros quadrados e era refrigerada á água.
Quando certo dia, meu interesse começou a crescer, repentinamente, quando no local de meu trabalho (extinto Banco Nacional), fora instalado um pequeno terminal de informações ao cliente, auxiliado por uma linha telefônica privada, chamado de Videotexto. Colhi o Maximo de informações possível sobre aquele aparelho que mudava a vida radicalmente das pessoas, pois através dele, era possível obter extratos de conta corrente dos clientes, já impresso em formulário continuo. Coisa inédita no serviço bancário. Nota: cada processo durava cerca de 3 minutos para ser concretizado, mas era bem mais rápido que enviar o extrato bancário do cliente via correio, pois quando o cliente recebia a correspondência, o saldo da conta já estava defasado em virtude dos lançamentos ocorridos desde a emissão do ultimo extrato.
E quanto mais eu me aprofundava naquilo, minha esperança de operar aquelas maquina era remota. E adquirir uma para o próprio uso, impossível...
Fiquei decepcionado quando a empresa contratou uma equipe especializada para o treinamento de duas pessoas na área contábil, para operar aquela pequena monstruosidade.
Bem, afinal de contas, porque deveria ser eu? Só porque eu era aficionado por tudo aquilo e se me dessem oportunidade, faria o melhor dos trabalhos. Alem do mais, eu me julgava suficientemente capaz de assimilar tudo o que me passariam também porque, na parte teórica, já tinha tudo de cor e salteado. Só faltava agora, uma pequena aula pratica. Oportunidade essa que eu não tive.
Meu acesso á aquela sala começou a ficar mais controlado, pois nela continha informações sigilosas da empresa. Achavam que não poderia ficar na sala uma pessoa que não fosse da área. Achava tudo isso bem engraçado, porque todas as informações da empresa passavam pelas minhas mãos, onde as preparava em forma de planilha e as entregava para os operadores para que apenas digitassem no computador. Ate então as coisas não melhoram em nada ao meu favor. Foi onde resolvi fazer alguma coisa.
Aventurei-me no primeiro curso de programação que encontrei, com promessas de bolsas de estudo, empregos garantidos, material didático gratuito, etc. NOTA: incrível que ate hoje existem escolas no mercado com as mesmas promessas.
Cada minuto das aulas eu devorava, como uma criança devora um bolo de chocolate. As aulas eram divididas em 1 hora e meia em teórica e meia hora pratica. Um computador para quatro alunos. Não via a hora de chegar à aula pratica, para poder aplicar o que aprendi nas aulas teóricas. Mal começava a digitar as linhas de programação, o sinal já disparava o sinal informando o final das aulas. Cheguei a ficar decepcionado, pois na verdade, tinha muitas idéias na cabeça e nada na pratica. Para descarregar o turbilhão de informações que existiam na minha mente, desenhava num caderno os fluxogramas e escrevia num caderno de uma forma grotesca as linhas de programação. Tinha certeza que se aplicadas corretamente num computador e iniciasse o procedimento de “rodar” o programa, tudo funcionaria perfeitamente.
Decidi então adquirir o meu próprio microcomputador. O problema era encontrar um equipamento que se adaptasse ás minhas aulas e ao meu orçamento familiar. NOTA: além de bancário era casado e já tinha minha filha com 03 meses de vida.
Depois de exaustivas pesquisas no mercado, encontrei um equipamento que atendia ás minhas aulas e pagamentos a perder de vista. Era um microcomputador chamado TK-85, fabricado pela extinta Microdigital. Ele possuía 16 Kb de memória e os programas eram gravados em fita cassete num gravador comum e era ligado á uma TV de 14 polegadas. NOTA: atualmente uma calculadora HP possui 2,5 GB de memória.
Pronto. Era tudo o que eu queria. Ficar horas e horas em frente á TV (que seria o monitor de vídeo), comprando revistas especializadas em programação Basic, comprando fitas cassetes gravadas com programas voltados a consultórios médicos, lojas, etc. Era outra ilusão, pois os programas eram grandes demais para caberem na memória do pequeno TK-85. Pelo menos consegui realizar meu sonho de fazer com que uma maquina respondesse aos comandos por mim informados. Cheguei até a fazer um programa onde alguém digitava algumas perguntas para que ele buscasse em algumas variáveis de memória respostas pré-definidas. Cheguei ao ponto de ficar horas e horas batendo papo com um computador. Já estava ficando louco...



Atualmente, continuo louco, só que a diferença é que tenho um computador de ultima geração, converso com pessoas do mundo todo “ao vivo”, trabalho como analista de suporte técnico em vários segmentos do mercado de varejo.
Além disso, realizei 03 de meus sonhos desde que era criança: Trabalhar com informática, ser locutor de radio e pilotar um avião.
Hoje já estou na área de informática a mais de 30 anos, tenho condições de criar programas e vinhetas para radio e já piloto um AIR BUS 319. Sou piloto “virtual” do Flight Simulator X com matricula na AVSin nº PT-RBO.

Viva a modernidade!