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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Desabafo de 25 anos atrás.

Estava eu revirando meus documentos antigos ontem á noite e por grande surpresa encontrei uma texto onde eu transcrevia toda a minha frustração em relação á informática, que na época ainda mal havia chegado ao Brasil. Não tinha condições de me formar como profissional, nem tão pouco ter um computador pessoal. O texto abaixo está na integra de como foi digitado na época. Foram adicionadas algumas notas, para efeito de mera curiosidade no momento da edição deste blog.
Este “desabafo” foi em 03/08/1985 quando eu estava completando 24 anos.
Resolvi deixar postado neste blog, pois quem sabe daqui a 25 anos, se o site ainda existir e eu estiver vivo, possa matar as saudades.

“...na verdade, eu nuca havia me interessado por isso antes, nem tão pouco tomava conhecimento do que se tratava. Apenas sabia, que tudo o que acontece no mundo de hoje, depende dos pequenos circuitos eletrônicos, de informações e programas, para que, um monte de chips, organize e arrume a vida de todo mundo. Ou desorganize...
Na minha concepção, a pessoa que trabalhava nesta área, necessitaria de altos conhecimentos em engenharia eletrônica, mestre em matemática, física, química ou qualquer matéria que exige de cálculos astronômicos, fosse a pessoa com um Q.I invejável. Ou apenas nascesse no Japão...
Comecei a ler artigos e revistas especializadas, jornais, consultei bibliotecas, enfim, comecei a entrar naquele mundo fascinante. Nada que lia e aprendia me espantava, pelo contrario, sabia que tudo aquilo estava aqui e agora, não era ficção cientifica. Era o próprio homem desenvolvendo algo que ele mesmo descobrira, que a união da mente humana com a perfeição das maquinas resultava numa explosão revolucionária. Fiquei pasmo em saber que em meados de 1822 um professor de matemática, Senhor Babagge, planejou a máquina analítica, onde seu principio era constituído em cálculos aritméticos, com memória para mil números de cinqüenta dígitos cada. Uma coisa totalmente impossível naquela época, onde tal projeto não pode ser concluído por falta de peças.
Tal projeto fora largado no passado, quando depois de 100 anos, outro professor de matemática com a ajuda dos projetos de Babagee, construiu a primeira maquina capaz de processar milhões de informações por segundo, fornecendo seus respectivos resultados, em poucos segundos. Esta maquina possuía nada mais que 18 mil válvulas e ocupava uma área de 80 metros quadrados e era refrigerada á água.
Quando certo dia, meu interesse começou a crescer, repentinamente, quando no local de meu trabalho (extinto Banco Nacional), fora instalado um pequeno terminal de informações ao cliente, auxiliado por uma linha telefônica privada, chamado de Videotexto. Colhi o Maximo de informações possível sobre aquele aparelho que mudava a vida radicalmente das pessoas, pois através dele, era possível obter extratos de conta corrente dos clientes, já impresso em formulário continuo. Coisa inédita no serviço bancário. Nota: cada processo durava cerca de 3 minutos para ser concretizado, mas era bem mais rápido que enviar o extrato bancário do cliente via correio, pois quando o cliente recebia a correspondência, o saldo da conta já estava defasado em virtude dos lançamentos ocorridos desde a emissão do ultimo extrato.
E quanto mais eu me aprofundava naquilo, minha esperança de operar aquelas maquina era remota. E adquirir uma para o próprio uso, impossível...
Fiquei decepcionado quando a empresa contratou uma equipe especializada para o treinamento de duas pessoas na área contábil, para operar aquela pequena monstruosidade.
Bem, afinal de contas, porque deveria ser eu? Só porque eu era aficionado por tudo aquilo e se me dessem oportunidade, faria o melhor dos trabalhos. Alem do mais, eu me julgava suficientemente capaz de assimilar tudo o que me passariam também porque, na parte teórica, já tinha tudo de cor e salteado. Só faltava agora, uma pequena aula pratica. Oportunidade essa que eu não tive.
Meu acesso á aquela sala começou a ficar mais controlado, pois nela continha informações sigilosas da empresa. Achavam que não poderia ficar na sala uma pessoa que não fosse da área. Achava tudo isso bem engraçado, porque todas as informações da empresa passavam pelas minhas mãos, onde as preparava em forma de planilha e as entregava para os operadores para que apenas digitassem no computador. Ate então as coisas não melhoram em nada ao meu favor. Foi onde resolvi fazer alguma coisa.
Aventurei-me no primeiro curso de programação que encontrei, com promessas de bolsas de estudo, empregos garantidos, material didático gratuito, etc. NOTA: incrível que ate hoje existem escolas no mercado com as mesmas promessas.
Cada minuto das aulas eu devorava, como uma criança devora um bolo de chocolate. As aulas eram divididas em 1 hora e meia em teórica e meia hora pratica. Um computador para quatro alunos. Não via a hora de chegar à aula pratica, para poder aplicar o que aprendi nas aulas teóricas. Mal começava a digitar as linhas de programação, o sinal já disparava o sinal informando o final das aulas. Cheguei a ficar decepcionado, pois na verdade, tinha muitas idéias na cabeça e nada na pratica. Para descarregar o turbilhão de informações que existiam na minha mente, desenhava num caderno os fluxogramas e escrevia num caderno de uma forma grotesca as linhas de programação. Tinha certeza que se aplicadas corretamente num computador e iniciasse o procedimento de “rodar” o programa, tudo funcionaria perfeitamente.
Decidi então adquirir o meu próprio microcomputador. O problema era encontrar um equipamento que se adaptasse ás minhas aulas e ao meu orçamento familiar. NOTA: além de bancário era casado e já tinha minha filha com 03 meses de vida.
Depois de exaustivas pesquisas no mercado, encontrei um equipamento que atendia ás minhas aulas e pagamentos a perder de vista. Era um microcomputador chamado TK-85, fabricado pela extinta Microdigital. Ele possuía 16 Kb de memória e os programas eram gravados em fita cassete num gravador comum e era ligado á uma TV de 14 polegadas. NOTA: atualmente uma calculadora HP possui 2,5 GB de memória.
Pronto. Era tudo o que eu queria. Ficar horas e horas em frente á TV (que seria o monitor de vídeo), comprando revistas especializadas em programação Basic, comprando fitas cassetes gravadas com programas voltados a consultórios médicos, lojas, etc. Era outra ilusão, pois os programas eram grandes demais para caberem na memória do pequeno TK-85. Pelo menos consegui realizar meu sonho de fazer com que uma maquina respondesse aos comandos por mim informados. Cheguei até a fazer um programa onde alguém digitava algumas perguntas para que ele buscasse em algumas variáveis de memória respostas pré-definidas. Cheguei ao ponto de ficar horas e horas batendo papo com um computador. Já estava ficando louco...



Atualmente, continuo louco, só que a diferença é que tenho um computador de ultima geração, converso com pessoas do mundo todo “ao vivo”, trabalho como analista de suporte técnico em vários segmentos do mercado de varejo.
Além disso, realizei 03 de meus sonhos desde que era criança: Trabalhar com informática, ser locutor de radio e pilotar um avião.
Hoje já estou na área de informática a mais de 30 anos, tenho condições de criar programas e vinhetas para radio e já piloto um AIR BUS 319. Sou piloto “virtual” do Flight Simulator X com matricula na AVSin nº PT-RBO.

Viva a modernidade!

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